Wanda Cunha, escritora maranhense
Aqui, engraxam-se sorrisos
Textos
Triângulo amoroso
Wanda Cunha

Sempre gostei da minha solidão. Sei que viver comigo não é fácil, sou bipolar. Mas se eu tivesse que escolher alguém com quem eu pudesse dividir o “Felizes para sempre”, com certeza essa pessoa seria eu mesma, ainda mais depois de tentar um montão de relação a dois e essas tentativas desembocarem na pororoca da incompatibilidade de gênios. Tô fora de príncipe encantado! Quer dizer... Fora até que um sapo me queira. Mas, enquanto não vislumbro essa tentativa, vou mastigando a idéia de que gosto demais de mim.

Tem que ser assim. Pra consolo, uso o velho adágio: “Mais antes só do que mal acompanhada”. É uma técnica de sobrevivência. Mas, no fundo, o meu consolo virou realidade: eu me dou bem comigo mesma, tirando as brigas do dia a dia.  Eu me divirto comigo, eu brigo comigo, eu me chateio comigo, mas eu vou sendo feliz comigo. E assim, nós duas, eu comigo mesma, vamos vivendo.  

Eu e minha solidão já moramos numa casa de três quartos, num apartamento de dois e, agora, como tudo era grande para essa convivência, resolvi alugar um aconchego,  uma kitnet: é tudo mais compacto e podemos dividir o único quarto, a pequena sala e a cozinha estreita, saber dividir faz parte da relação.

Mas eis que, passado um tempo, descobri uma nova companhia na minha kitnet, que interferia consideravelmente na minha boa relação comigo mesma. Se eu estivesse dormindo, ela chegava e  tocava meu rosto, tocava meus lábios, tocava meu corpo... E ia querendo intimidade. Acho que ela queria me seduzir e colocar em prova a fidelidade que eu dedicava a mim mesma.

Se eu desligasse a luz, quando pensava que a hóspede não estava ali, ali vinha ela. Eu abria a porta, pedia pra ela sair e quando pensava que ela estivesse do lado de fora, já estava na cozinha. Se eu abrisse a geladeira, ele espiava antes de mim o que havia dentro da geladeira. Adorava o fogão, a televisão, o armário, a cama... Ela era insistente, e as suas investidas ficavam chatas!...   Pra lá!... Não comprei a kitnet com a inquilina dentro, mas ela se sentia a dona do pedaço.

Certo dia, na hora do banho... lá estava ela. Quando peguei a toalha para me enxugar, ela girou seu corpo ao redor do meu. A toalha serviu-me de defesa. Em seguida, usei a toalha como se fosse um cinto e bati, bati demais na figura inoportuna. E  - graças! - ela caiu ao chão! Até que enfim!... Eu acertei na mosca!...

Wanda Cunha
Enviado por Wanda Cunha em 16/06/2015
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