Wanda Cunha, escritora maranhense
Aqui, engraxam-se sorrisos
Textos
BODAS DE CASAMENTO – WANDA CUNHA

O meu marido, em reflexões filosóficas, é quem diz que os namorados, antes do casamento, são dois mascarados e que, assim que casam, tiram as máscaras.
Na sociedade moderna, as máscaras são tiradas antes de acabar o baile da lua de mel. Por isso, quando os cônjuges completam um ano de casados, já entram nas bodas de papel, mas do papel higiênico.
Contudo, para alguns, o segundo ano de casamento ainda chega a ter o sabor das bodas de algodão doce, mas, para outros, no 3º ano, as bodas de couro fazem jus ao nome, uma vez que, quando a mulher não  leva couro do marido, ela própria é quem dá no couro dele.
No quarto ano, as bodas de flores, às vezes, são meras metonímias dos espinhos; e, aos cinco anos, as palmatórias com as quais marido e mulher se digladiam são feitas das bodas de madeira.
Comumente, aos seis anos, o casal já encontrou numerosas formigas nas bodas de açúcar; e, aos sete, então, os carinhos não conseguem compor um agasalho com as bodas de lã.
Aos oito anos de casamento, tudo são bodas de barro; e, aos nove, as conversas são feitas de bodas de erva, mas erva daninha.
No décimo ano, vivem o acaso das bodas de estanho. E, quando descobrem que conseguiram viver onze anos juntos, descobrem, paralelamente, que seus nervos são feitos das bodas de aço.
Aos doze, já têm a certeza de que a vida a dois não é feita das bodas de seda; e, no 13º ano de casados, até os salários dos dois não se unem, motivo por que são obrigados a fazer a declaração de imposto em diferentes bodas de renda.
Aos catorze anos de casados, cada um é a cruz do outro feita de bodas de marfim. E, quando chegam ao 15º aniversário de casamento, a união dos dois está assegurada pelas bodas de cobre que encobrem as duas cobras que são um para o outro.
Aos vinte anos, até por causa dos netos, é preciso mentir que as bodas são de pérola. Nos 25 anos de casados, o diálogo entre os dois continua não sendo a melhor opção, porque se as palavras valem bodas de prata, o silêncio ainda vale ouro. Embora saibam que, aos 35 anos de união, já não conseguem viver um sem o outro, ainda assim, haverá uma pitada do veneno que compõe as bodas de coral.
Aos quarenta anos, os dois companheiros já não são as mesmas feras e deixam-se homenagear pelas bodas de rubi.
Aos quarenta e cinco anos de casados, as bodas de safira já são para ambos um diploma de paciência; e, aos cinqüenta anos, as bodas de ouro parecem medalhas, que ganharam nas olimpíadas do quem chegou primeiro na velhice. E, no garimpo das bodas de esmeralda, são mais perseverantes, mais persistentes que Paes Lemes.
Aos setenta e cinco anos de casados, os dois velhinhos são bodas raras de diamantes preciosos. Afinal, um suportou o outro, um aturou o outro ao longo da vida, que merecem, finalmente, o prêmio Nobel da Paz.







Wanda Cunha
Enviado por Wanda Cunha em 25/11/2016
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras