Wanda Cunha, escritora maranhense
Aqui, engraxam-se sorrisos
Textos
HERANÇA GENÉTICA – WANDA CUNHA



Eu fui ao enterro de minha mãe
No mês de abril há vinte anos
E hoje é maio.

Sinto todos os dias o gosto de luto do domingo,
Anunciando a mesma torrente de ausências.

No espelho, meu rosto lembra o rosto  dela.
Cheio de tentativas de amor e silêncios.

Na imagem, uma leve presença da  minha partida
Que também lembra a partida dela.

Tanto eu ainda aprenderia com ela!...

Entenderia  melhor para que servem as mamas
Depois que elas já não servem pra doar leite,
Embora eu  tenha sofrido muito
Quando ela me ensinou pra que serve o útero
Depois que os  filhos crescem e adquirem vida própria.

Estive  tão pouco tempo com ela
Que nem me lembro de ter nascido.

Foi por isso que eu me transformei neste folículo ovariano
Solitário e triste, com semblante de cisto folicular.

Wanda Cunha
Enviado por Wanda Cunha em 08/05/2019
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