LENDAS INDÍGENAS
“Lendas Indígenas” é uma obra do maranhense Olímpio Cruz e da mineira Maria de Lourdes Reis, publicado pela Thesaurus Editora e Sistemas Audio-Visuais Ltda, em Brasília-DF, em 1981. O livro se divide em três partes: A primeira, intitulada OS CANELAS, traz sete lendas daquela tribo: “Tepkahore”, “O guerreiro Pób, “O Capulho de algodão”, “O Aviso do Sucuriú”, “O Sol e a Lua”, “O índio Kluapu”, “Fuga para a Liberdade”. A segunda parte, também com sete lendas, trata de Os Guajajaras, cujas lendas são: “A Iporá”, “A Origem da Mandioca”, “A Raposa e a Rolinha”,” A Festa do Moqueado”, “O Jabuti e Suas Esposas”, “O Filhote de Cupê-Lobo” e “A Descoberta do Fogo”. Na terceira parte do livro, há o Hino Nacional Brasileiro em dialeto Guajajara.
A tribo dos Canelas é do grupo Timbira que vive na região entre os rios Itapecuru e Corda. Segundo outros pesquisadores apontados pelos autores, os Canelas fizeram parte da Balaiada, ocorrida no Maranhão em 1839-1840. Também em Alto Alegre – MA, sob o comando do Coronel Pedro José Pinto, eles lutaram, em 1901 contra a tribo Guajajara. No município de Barra do Corda, até a data dessa pesquisa, havia somente duas aldeias nas quais eles se concentravam: Escavaldo e Porquinhos. Os autores observam que Cupé-Lobo é um bicho misterioso, meio homem e meio fera que povoa o imaginário dessa tribo. O animal é “cabeludo e seus pelos se arrastam pelo chão”. Perigoso, ele tem um ponto vulnerável: “só morre quando ferido no umbigo”.
O Aviso do Sucuriú (p. 24-25) é uma das lendas da Tribo dos Canelas. Té-hôc, uma curandeira da tribo Cakamekra foi apanhar buriti à beira do ribeirão, lá encontrou um grande sucuriú que ajudou-a a colher o fruto. Quando se despediram, o sucuriú deu um aviso pra curandeira: “ uma tribo inimiga, a estas horas, está vindo para massacrar tua gente. Diz ao teu povo para fugir e espalhar-se no mato, depressa.” Assim que chegou na tribo, Té-hôc aflita gritou: “Fujam! Fujam” (...) vem inimigo pra exterminar nossa aldeia”, Entretanto a maioria não acreditou. E Té-hoc foi chamada de mentirosa e expulsa da aldeia. Os incrédulos permaneceram na taba. Quando ela voltou, viu muitos corpos massacrados e poucos índios permaneciam vivos e chorando. Um velho guerreiro que resistiu ao massacre então disse que os índios foram castigados, porque não acreditaram em uma mulher; eles pensavam que só os homens sabem de tudo. Os autores não explicam o que seria Sucuriú, mas Sucuriú é o nome de um rio, além de que designar espécie de cobra grande no Brasil, conhecida também como sucuri.
Na segunda parte da obra, os autores acentuam que a maior parte dos índios do Maranhão pertence à nação Guajajara. No Maranhão, são conhecidos como Guajajara-Tenetehara e, no Pará, como Tembé-Tenetehara. Eles são descendentes da família Tupi. A concentração dessa tribo é na região banhada pelos rios Mearim, Corda, Grajaú e Pindaré. Em 13 de março de 1902, os Guajajaras “atacaram e mataram cerca de duzentas pessoas, inclusive padres, freiras e alunas do Colégio da Missão Italiana, em Alto Alegre”. Os índios rebeldes “foram atacados pelas tropas comandadas pelo coronel Pinto, tenente Tomé, alferes Manoel Gonçalves e o conhecido capitão Raimundo Goiabeira, o oficial que mandou matar mais índios naquele época”. Somente com a prisão do João Caboré a luta cessou. Caboré era conhecido como Caiuré Imana, que significa Caboré Velho.
Na lenda dos Guajajaras, destaca-se a de Iporá, a Mãe-d’água. Dita a lenda que Iporá era muita amiga dos Guajajaras e costumava sentar-se numa pedra lisa do rio Isô (Mearim) ou lá nos barrancos do Capi (rio da Corda). Ela era linda, de cabelos verdes e sedosos. Certo dia, enquanto dançava e cantava, ela falou sobre as belezas do seu palácio no fundo das águas; sobre a felicidade que lá existia e convidou os Guajajaras para desfrutar da magnitude de seu reino. Os índios eram felizes ouvindo as promessas de Iporá até que, certo dia, os Canelas, cheios de inveja, próximo à cachoeira Iriapohu, à margem do rio Capi, mataram a mãe-dágua com suas flechas. Desde aquele dia, somente os Guajajaras - o pajé, seus discípulos e iniciantes nos mistérios do Reino do Fundo do Mar - podiam ver a formosa e sedutora Mãe-d’água.